Por Claudomir Tavares | claudomir21@gmail.com
Lendo esta semana mais uma postagem de Juscelino Britto em
nosso Livro de Visitas, lembrei de uma passagem de nossa história que
deve ter sido a mesma de muitos de nossa geração que nos anos 80
iniciaram uma relação com a cidade de Japaratuba. Foi nesta época que
iniciávamos os estudos cursando o 2º Grau no Colégio Cenecista Senador
Albano do Prado Pimentel Franco, que funcionou até o ano de 1986 no
prédio do atual Colégio Estadual Senador Gonçalo Prado Rollemberg.
Alí conhecemos um professor de Educação Moral e Cívica e
Organização Social e Política do Brasil. Ativista cultural e sintonizado
com as questões sociais de sua comunidade, o advogado Juscelino
Pinheiro de Britto elegeu-se vereador pela PDS em 1982. Não conseguiu
reeleger-se em 1988. Não foi ele o derrotado, e sim a cidade de
Japaratuba, a cultura da cidade, a Escola de Samba Unidos de Japaratuba,
o Ginásio Municipal Emiliano Nunes de Moura, da qual foi o principal
responsável pela implantação do 2º Grau (Contabilidade e Pedagógico)
naquela instituição.
■ Um caso de amor com Japaratuba:
Juscelino era entre todos os japaratubenses, o mais
apaixonado pela sua cidade. Ele não era padre (pelo contrário, fazia
oposição a um padre que depois viria a se tornar prefeito), mas a
relação de amor e de compromisso, comprometimento com a sua cidade, era
um sacerdócio. “É uma relação de amor com a cidade, uma relação pacional
com a cidade que se confunde com sua vida’” descreveu Zilma Britto, sua
irmã, a qual tive o prazer de conhecê-la em 2007, cursando a
Pós-Graduação (aperfeiçoamento) em Gestão de Recursos Hídricos.
■《A Casa de Japaratuba:
Juscelino residia em uma casa localizada à Praça Pe Caio
Tavares, tendo como vizinho direito a residência de ‘dona’ Eunice
Menezes (mãe do ex-vereador Ceno) e do lado esquerdo a Agência do
Banese. Esta era a referência de estudantes de Pirambu, Aguilhadas,
Maribondo, São José, Fleixeiras, Curral do Meio, Aguada, Carmópolis e da
cidade de Japaratuba. “Era nosso albergue, um ponto de apoio dos
estudantes tanto de Japaratuba quanto dos demais municípios”, descreveu a
época os estudantes Anderson (Aguada) e Wilmo (Fleixeiras).
Sua residência estava sempre abertas (as portas existiam
apenas para uma formalidade arquitetônica) para receber, orientar,
amparar, abrigar estudantes, a juventude, o universo cultural e político
que transformava a residência do advogado-professor-vereador. Juscelino
defendia seus estudantes como ‘um cão raivoso’, naturalmente com a
doçura de quem aprendeu a construir amizades e uma relação de
convivência de um nível ainda hoje inimitável. “Quem menos mandava na
sua casa era o próprio Juca”, dizia o estudante de Contabilidade José de
Melo, acrescentando que “ele não precisava mandar, pois todos defendiam
a casa de Juca como defendiam suas próprias casas”, completou.
■ Visionário e empreendedor:
Juca como era conhecido por todos, foi um empreendedor.
Visionário, ‘perseguia’ a idéia e a concretizava. Só para citar alguns
exemplos:
■ Educação:
Implantação do 2º Grau no Ginásio Municipal Professor
Emiliano Nunes de Moura, que passou a denominar-se Escola (depois
Colégio) de 1º e 2º Graus Emiliano Nunes de Moura;
■ Cultura:
Idealização e fundação da Escola de Samba Unidos de
Japaratuba, que brilhou por vários anos na Avenida Barão de Maruim, em
Aracaju;
■ Comunicação:
Lançamento do Jornal ‘O Regional’, que circulou
quinzenalmente de 1986 a 1988. O jornal mostrava-se sintonizado com o
seu projeto, se não vejamos uma manchete: “O dinâmico prefeito Pedro
Moura”
■ Sua aldeia:
Juscelino acumula algumas frustrações, decepções, mas
acumula, principalmente, um legado que nem ele imagina: iniciou uma
geração nos caminhos da cidadania, de intervenção social com atitude, da
valorização cultural, do bairrismo necessário, da apropriação dos
elementos culturais como valor incalculável. Quando Bertold Brecht
soprou a frase “quanto mais você canta sua aldeia, mais universal você
se torna”, involuntariamente ele estava definindo este cidadão do século
XX.
■ Ídolo de uma geração:
Somos uma geração que nos orgulhamos de ter conhecido
Juscelino Britto, de ter aprendido muito com ele e hoje, modestamente
estamos transmitindo estes conhecimentos acumulados com este grande
mestre que é o nosso querido Juca.
■ A falta que nos faz:
Com outras atribuições laborais, Juca tem vindo a ‘seu
torrão’ esporadicamente, ‘matando de saudade’ uma geração hoje na faixa
de 35 a 45 anos. Sua ausência tem deixado Japaratuba menor, diante de
seu potencial, pelo muito que fez e pelo muito que ainda poderia fazer.
Mas o exemplo dado é para sempre!
■ Nossa homenagem:
Não vamos esperar para homenagear Juscelino quando este
completar 100 anos. As homenagens a este grande japaratubense, talvez o
maior de sua geração, deve ser feita em vida. Ele que já viveu mais de
40 e menos de 60, pode ser que não chegue a idade de dona Maria Rita dos
Prazeres, que completou 111 e recebeu uma casa de alvenaria, mas com
certeza viverá mais que Arthur Bispo do Rosário. Inclusive, assistindo a
festa do seu centenário, quando esta vier!
■ Comentário:
"Achei maravilhoso a homenagem ao prof. Juscelino, quando
estudei no ginásio Emiliano Nunes de Moura de 1982 à 1985, tive aula com
ele de EMC, foi no tempo da diretora Genólia,se não me engano ele
também foi vice- diretor na época, ele é uma pessoa impar, fez muita
diferença na minha vida academica, tenho muitas saudades daquela época.
(Terezinha - Guarulhos/SP - Em: 06/09/2009)
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(1) Publicado pela primeira vez em 17/05/2009 no portal Tribuna da Praia