sexta-feira, 22 de junho de 2018

Cabelo não ganha jogo


Em 2002, a seleção inglesa tinha quatro cabeleireiros à disposição durante a Copa do Mundo. Às vésperas da partida contra o Brasil, pelas quartas de final, David Beckham bancou a viagem do próprio cabeleireiro ao Japão. O jogo anterior da Inglaterra, que venceu a Dinamarca por 3 a 0, acontecera sob forte chuva em Niigata. 

Victoria Beckham teria se inconformado com o estado do cabelo do marido ao fim do duelo e sugeriu a ida emergencial do hair stylist Adee Phelan com o intuito de retocar o penteado do astro. Curiosamente, o responsável pela falha no gol da eliminação inglesa, marcado por Ronaldinho Gaúcho em cobrança de falta, foi o cabeludo David Seaman

Dois anos antes, Alex Ferguson, lendário técnico do Manchester United, havia obrigado Beckham a raspar o moicano no vestiário antes da final da Supercopa da Inglaterra. Seu time levou 2 a 0 do Chelsea.
 Cabelo não ganha nem perde jogo. Parece óbvio, mas, quando o juiz apita, o que realmente conta é o desempenho em campo. Nesse sentido, nada mais inútil e exagerado que a discussão em torno dos penteados de Neymar ou dos cabeleireiros que prestam serviço à seleção brasileira. “Ah, mas jogador tá mais preocupado com o cabelinho do que em jogar bola.” Atletas de futebol não vivem 24 horas em função do trabalho. 
Na concentração, muitos se distraem com videogame, baralho, dominó, livros, celulares e, em alguns casos, até tomam um vinho ou uma cerveja para relaxar nos momentos de folga dos treinos. São seres humanos, não robôs.
Aproveitar o tempo livre para cortar o cabelo, fazer o pezinho, alisar o topete ou mudar o corte a cada partida não deveria ser um parâmetro para avaliá-los. Dar um trato nas madeixas no cabeleireiro da esquina ou na barbearia gourmet tampouco define o caráter de alguém.
 Neymar merece críticas pelo excesso de individualismo, por cavar faltas desnecessárias, por prender demais a bola em zonas improdutivas do campo e, inclusive, por temas que fogem às quatro linhas, como as acusações de sonegação de impostos e a conduta pouco profissional em sua primeira temporada no PSG. Ao inserir o penteado no mesmo bolo de questionamentos, torcedores e parte da imprensa apenas reforçam a síndrome de perseguição que o craque alimenta desde os tempos que despontou no Santos.
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EL País

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