Claudomir Tavares da Silva[1]
Ariovaldo Antônio Tadeu Lucas[2]
I
– INTRODUÇÃO
A história das sociedades humanas, até hoje, gira
em torno das perguntas que conseguimos formular, mas é movida, principalmente,
pelas respostas que conseguimos encontrar a estas indagações. A ciência, por
sua vez, teima em se mostrar dinâmica, introduzindo novos elementos a estas
descobertas, constituindo-se numa simbiose perfeita, o que proporciona uma
relação contínua fantástica.
Ao longo da história da humanidade, tem se
verificado a opção dos povos, em todos os continentes da Terra buscaram ocupar
terras banhadas por rios, principalmente aqueles mais caudalosos, em cujas
margens formaram-se as condicionantes para a prática de atividades que lhes
proporcionem suas sobrevivências.
Em função desta presença humana, constituíram-se as
grandes civilizações da antiguidade, o que não se fez diferentes nos períodos
subsequentes, dada abundância de água para a prática da atividade pesqueira,
fertilidade dos solos, para a prática da agricultura, as condições favoráveis a
navegação, elementos essenciais para a manutenção da vida na Terra.
Estabelecendo um paralelo histórico, ao tempo em
que resguardadas as necessárias proporções, esta foi condição adotada na
ocupação do território sergipano, notadamente onde está localizada o que
convencionamos chamar de Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe, onde atualmente
está presente o maior contingente populacional do Estado, encontrando-se nela a
Sub-Bacia do Rio Jacarecica, marcado pela presença de três barragens, integrada
por cinco municípios, a saber: Ribeirópolis, Itabaiana, Areia Branca, Malhador
e Riachuelo.
O Rio Jacarecica, que denomina a Sub-Bacia, nasce
na região da Terra Dura, em Ribeirópolis, e deságua no Rio Sergipe, que estende
a denominação a bacia, na sede do município de Riachuelo. Aqui, sem pretensão
de esgotar o tema, apresentar-se á possíveis respostas as questões referentes à
área geográfica da sub-bacia hidrográfica, associando-a necessariamente aos
desdobramentos mais significativos que caracterizaram a história de seu povo.
2.
A OPÇÃO PELAS MARGENS DOS RIOS
Ao buscar entender o que une o povo fixado na área
geográfica da sub-bacia do Rio Jacarecica, compreendendo suas particularidades,
suas manifestações, suas aspirações e sonhos, proporcionou estabelecer uma
relação do processo histórico indissociável em torno da sua ocupação e
permanência.
Tomando o exemplo das antigas civilizações da humanidade, não é difícil concluir qual a opção dos povos do Egito, da Mesopotâmia, da Índia, da China, ou mesmo da América, em ocupar primariamente as margens dos grandes rios (e outros nem tantos) localizados nestes pontos distintos da Terra, dada as possibilidades neles aferidas, como água para consumo, terra fértil para a prática da atividade agrícola, leito para o exercício da pesca e a navegação, entre outros condicionantes essenciais para a sobrevivência destas populações.
“Para entendermos como surgiram
as primeiras grandes civilizações da humanidade, precisamos compreender como
nasceram às primeiras cidades. Também sendo importante entender a importância
que os rios tiveram neste processo.” (FABER, 2011. P. 3).
A ocupação do território sergipano é datada do
Holoceno (12000 AP[3]),
sendo a maioria dos povoadores do território que corresponde atualmente a Sub-Bacia
Hidrográfica do Jacarecica classificada entre os ceramistas (5.000 anos AP ao
presente), estando o município de Riachuelo incluído entre aqueles em que foram
verificadas a presença das culturas pré-históricas em Sergipe, na sua tradição
Aratu[4]
(CARVALHO, 2000. p. 29).
De acordo com Nunes (2006: 19), “a divisão do
Brasil em Capitanias Hereditárias em 1534, integrou o território sergipano à
Capitania da Bahia de Todos os Santos, concedida a Francisco Pereira Coutinho
por Carta de Doação de 05.04.1934, e regulamentada por Foral de vinte e dois de
agosto do mesmo ano. Abrangia ela 50 léguas de terra, que se estendiam da foz
do São Francisco à Ponta do Padrão em Salvador”.
A conquista do território de Sergipe “foi a
consequência da expansão colonizadora da Bahia para o norte (...) veio acabar
com a solução de continuidade territorial que separava Recife da Bahia, que se
constituíam como os únicos pontos de povoamento existentes ao norte (...) Bahia
era o centro do governo colonial e Recife recebia o influxo de sua ação, não só
sob o ponto de vista político e social” (FREIRE, 1995. p. 15), e seu efeito
imediato “foi à ocupação da terra, desde o Real até o São Francisco, no
movimento sul para o norte, com ocupação transversais, junto aos afluentes dos
grandes rios: Real, Piaui, Vasa-Barris, Cotinguiba, Japaratuba e São Francisco.
(BARRETO, 2002. p. 49).
“A ocupação do território da
bacia do rio Sergipe começou em 1594, quando Tomé Fernandes localizou-se além
das margens do Cotinguiba. Em seguida foram ocupadas as terras junto ao
Comendaroba, ao Ibura, ao Aracaju, ao Cotinguiba e ao Sergipe, ocupando áreas
onde nasceu a lavoura de cana-de-açúcar, que transformou a região na mais rica
de Sergipe.” BARRETO, 2002. p. 49)
Considerando que “os rios que banham o território
sergipano são agrupados em seis bacias principais: São Francisco, Japaratuba,
Sergipe, Vasa-Barris, Piaui e Real, o povoamento do território sergipano e as
atividades econômicas que o impulsionaram foram marcadas por esta diversidade
geográfica.” (NUNES, 2006. p. 106).
Foram os criatórios de gado quem abriu as portas
para a ocupação das terras além do litoral, ao longo do rio Sergipe e seus
afluentes eram vinte e oito proprietários de currais de gado.
“A ocupação das terras ao longo
do rio Sergipe permitiu, a partir de 1600, a presença de dezoito sesmeiros, em
poucos anos, continuando por todo o éculo XVII, quando os criadores de gado
expressavam a pujança sergipana.” (BARRETO, 2007. p. 49).
Mas esta atividade não lograria êxito, não fosse a
presença do rio Jacarecica e seus tributários cujo conjunto que forma a
sub-bacia constituí-se em elemento essencial ao desenvolvimento desta atividade
e daquelas que foram desenvolvidas na sequência ou concomitantes.
3.
E SURGEM AS CIDADES
É percorrendo as lembranças de parte destas pessoas
(camponeses, pescadores, fazendeiros, etc.), cominados com o aferimento nas
fontes bibliográficas disponíveis, que procurou-se conhecer outra visão sobre
os elementos histórico-culturais da sub-bacia do rio Jacarecica, notadamente
naquilo que pretende-se debruçar, conhecendo outra maneira de re-construir a história
“O desenvolvimento da colonização
da Capitania de Sergipe se processou dentro da política mercantilista ibérica
dominante, visando a levar grandes rendimentos ao Tesouro Real. Buscava-se
desenvolver a agricultura que resultasse em produtos solicitados pela economia
europeia em plena expansão trazendo bons lucros. (...) Grande foi à corrida
inicial de colonos pela posse da terra sergipana. Entre os anos 1596 e 1607,
Felisbelo Freire registrou a doação de 205 sesmarias.” (NUNES, 2006. p. 37).
Indispensável dizer que este “surto” inicial de
ocupação do território sergipano, consoante as afirmações de Maria Thetis Nunes
(2008), respingaria necessariamente na região formada em torno da sub-bacia
hidrográfica do Rio Jacarecica, verificando-se a partir dali a formação dos
primeiros núcleos populacionais.
São datadas do século XVII a criação de novas
freguesias, entre as quais a de Santo Antônio e Almas da Vila do Itabaiana
(AMARAL, 1998. p. 14). A partir daí, foram várias as povoações que começam a
ganhar vida em Sergipe, a exemplo daquelas que dariam origem as atuais cidades
de Areia Branca, Malhador, Riachuelo e Saco do Ribeiro (Ribeirópolis).
“O surgimento das cidades
brasileiras está ligado à questão religiosa. O aparecimento de uma freguesia,
de uma vila ou de uma cidade sempre esteve relacionada diretamente com a Igreja
Católica. O marco inicial de uma cidade – a construção de uma igreja – a
princípio apresentava-se com uma arquitetura simples e rústica. A partir desse
marco, as vielas, ruas e praças começaram também a organizar-se. (...) A
estrutura urbana que surgia dava origem aos chamados povoamentos. (...).”
(MARX, 1991. Apud NUNES, 1994. p. 7).
Seguindo uma tendência do que ocorria no Brasil
Colonial, o surgimento das cidades em Sergipe no período que vai do século XVII
ao final do século XIX apresenta as mesmas características, a partir dos
interesses do Estado ou da Igreja.
“Muitas vezes a distância entre o
povoado e a cidade fazia com que o primeiro fosse elevado a categoria de vila
ou cidade por interferência da Igreja, pois a partir daquele momento a
comunidade teria a permanência de um padre, evitando assim o deslocamento dos
fiéis para outra localidade com o intuito de participar de ofícios religiosos.”
(NUNES, 1994. p. 9)
A presença de um rio, condição que proporcionava a
escolha dos territórios em que seriam ocupados, associada no caso da sub-bacia
do Rio Jacarecica, esteve associada com edificação de um núcleo habitacional em
cujo centro ou parte mais elevada, era demarcado com a construção de uma
Igreja, quase sempre, marco inicial dos sítios históricos em que surgiram as
cidades e povoados desta região.
4.
AS CIDADES DO JACARECICA
A formação e desenvolvimento (econômico e social)
dos municípios sergipanos são marcados pelo privilégio de uns em detrimentos de
outros, sendo vários os elementos que contribuem para isso, como o fato de
serem fontes geradoras de recursos para o Estado, seja pela presença da
indústria ou ainda pela produção agrícola ou pela presença de alçaram aos
recursos minerais.
Mas ao lançar-se um olhar sobre o passado destes
municípios (neste caso, nos referindo aos localizados na sub-bacia do
Jacarecica), verifica-se que as cidades não conseguiram alcançar este grau de
desenvolvimento na mesma proporção, se configurando hoje como apêndices
daquelas que obtiveram um padrão mais consistente e ascendente (com destaque
para Itabaiana que conseguiu sobrepor-se aos demais).
É preciso então, entender inicialmente em que
circunstâncias estas (cidades e povoados) surgiram e a partir daí estabelecer
um paralelo, identificando as semelhanças (e diferenças) no processo de
constituição do que convencionou-se classificar de Sítio Histórico. Neste
sentido, faz-se necessário entender que o surgimento das primeiras cidades na
Sub-Bacia Hidrográfica do Jacarecica não ocorreu de forma homogênea, uma vez
que, ainda que muito próximas uma das outras, verifica-se que em estas nasceram
dentro de características bastante peculiares.
4.1.
Itabaiana
As informações obtidas junto a Biblioteca do IBGE
(2012), que reúne elementos coletados junto a instituições municipais, indicam
que a colonização e povoamento de Itabaiana tiveram início após a conquista do
território sergipano por Cristóvão de Barros, em fins do século XVI
efetivando-se a posse das terras (sesmarias) pelos colonos gradativamente, por
cartas de doação, nos séculos XVI e XVII, e alvarás, no século XVIII. [5]
O primeiro contato com os nativos de Itabaiana[6]
deu-se quando em 1586 os franceses que tentaram conquistar a Bahia procuraram
estabelecer uma relação de amizade com os indígenas, recrutando-os para este
embate. De lá para cá, um lastro histórico, até o momento em que se dará a
construção a partir de 1675 a Igreja que deu origem atual matriz de Santo
Antônio de Almas de Itabaiana, a elevação a condição de vila em 1665 e
finalmente a categoria de cidade em 28 de agosto de 1888[7].
Na trajetória histórica de Itabaiana constam lendas que a associam a busca das minas de prata, originária a partir da atuação de Belchior Dias Moréia e de salitre nos sertões de Sergipe, as quais inspiraram José de Alencar a escrever em 1862 o romance “As Minas de Prata” e Paulo Setúbal, em 1935 o “Romance da Prata”
No caso do povoamento de Saco do Ribeiro, atual
Ribeirópolis, está intimamente ligado ao surgimento da Vila de Itabaiana,
datando segundo Santos (1987: 11) do derradeiro decênio do século XVII, até
quando alcançou sua emancipação política em 18 de dezembro de 1933, sob a
denominação de Ribeirópolis, que vem tentando se enquadrar no contexto das
cidades progressistas de Sergipe.
4.2.
Malhador
Nas informações levantadas por Ariosvaldo
Figueiredo (1976), o nome Malhador surgiu por conta do gado que pastava na
região e que ao entardecer procurava um lugar no tabuleiro para descansar e
ruminar[8].
“Muitos não gostaram do nome, mas a história, mais forte, não deixou ninguém
mudá-lo. Tentaram, mas de uma vez, chamá-lo de São José, padroeiro do lugar,
porém não pegou, não colou. O tempo correu, o nome ficou”. (FIGUEIREDO, 1976.
p. 17). Alcançou emancipação política em 25 de novembro de 1953.
4.3.
Areia Branca
Quanto ao topônimo de Areia Branca está ligado à
coloração do solo, o que indica a provável existência de praia em tempos remotos.
A povoação teria se iniciado no quadrado em frente à capela que se transformou
depois na Igreja Matriz São João Batista, nome do padroeiro dos
areiabranquenses. Muito tempo levou para formar-se o povoado, que passou a ter
registro na história como município no dia 11 de novembro de 1963, quando foi
emancipado de Riachuelo, cujo território fora desmembrado deste município e
mais dos de Itabaiana e Laranjeiras, com os quais se limita[9].
4.5.
Riachuelo
Também as informações do IBGE apontam que o núcleo
primitivo do atual município de Riachuelo foi inicialmente pouso de tropeiros,
no roteiro entre os centros açucareiros mais amigos, de Laranjeiras e Divina
Pastora. Com a vinda da família Pintos teve início a aglomeração conhecida como
"Povoado dos Pintos", que foi elevado, em 1837, à categoria de
freguesia (Nossa Senhora da Conceição do Riachuelo) e, em 1874, à de Vila e
Município com a denominação de Riachuelo. Riachuelo foi até fins do século XIX,
um dos centros mais importantes da Província, depois Estado de Sergipe, devido,
sobretudo, à sua indústria açucareira[10].
5.
OS POVOS JACARECICA:
Lançando mão da historiografia sergipana, a
despeito da presença humana em nosso território, nos damos conta de que este
fora habitado por diversas tribos indígenas, sendo que Mott (1986: 18. p. 19)
documenta a presença de brancos, pardos, negros e indígenas como integrantes da
etnia sergipana no século XVIII, tendo sido estes grupos fundamentais na
formação histórica e cultural dos diversos municípios, entre os quais aqueles
em questão neste trabalho.
“Quando a Capitania de Sergipe
encerrou a etapa colonial, a população de cor livre era numerosa, fato que em
desafiado os estudiosos em busca de explicação (...). Também era numerosa a
população branca, existindo um branco para cada pessoa de cor”. (NUNES, 2006.
p. 243).
Vivem atualmente nos cinco municípios da sub-bacia
do rio Jacarecica 143.294 habitantes[11],
ocupando uma área de 923 km² (BOMFIM, 2002), numa densidade demográfica de
155,21 hab/km² (Areia Branca: 16.857 hab – 147 km², Itabaiana: 86.967 hab – 337
km², Malhador: 12.042 hab – 101 km², Ribeirópolis: 17.173 hab – 259 km² e
Riachuelo: 9.355 hab – 79 km²).
Quando Marx (1982) afirmava que “a economia é o
motor da história”, ele não se referia especificamente ao “modo de produção” do
homem da Sub-Bacia Hidrográfica do Jacarecica, mas o conceito emitido de
“motor”, está associado ao fato de ser esta a engrenagem que tem movido a vida
das sociedades ao longo da história da sociedade, acrescentando que esta se dá
através “da luta de classe”. Resguardando as devidas e necessárias proporções,
o elemento econômico, moveu a história de vida dos povos do Jacarecica, sendo
na atualidade fatores de identidade cultural.
Das primeiras atividades econômicas praticadas a
partir da colonização das terras de Sergipe del Rei, foi à pecuária aquela que
se deu como a impulsionadora da ocupação do território da sub-bacia
hidrográfica do Jacarecica, pois “antes do sergipano ser agricultor foi pastor”
(FREIRE, 1977. p. 176). “A pecuária permitiu o acesso a terra de uma parte da
população mais pobre”. (GUIMARÃES, 1981. p. 72).
5.1.
Aspecto sócio-econômico
No município de Areia Branca, as atividades
econômicas “tem suas bases nas atividades agrícolas, pecuárias, comerciais,
minerárias e avicultura. Na agricultura, destaque para a produção de mandioca,
cana-de-açúcar, manga, maracujá, milho e laranja. A pecuária está voltada para
a criação de bovinos, suínos e muares. A avicultura, de porte reduzido, é
voltada a criação de galináceos. Na mineração, destaque para a exploração de petróleo/gás,
e também lavras de areia.” (BOMFIM, 2002. p. 4).
Um dos mais importantes centros sócio-econômicos do
estado, o município de Itabaiana “tem uma das principais economias do Estado,
com nível elevado de empregos nos setores de serviço, indústria e comércio. A
mineração também contribui para a economia, com a atividade de lavra de
pedreiras. A agricultura tem como principais produtos, a mandioca, batata doce,
manga, tomate, laranja e feijão. Na pecuária, os principais efetivos são os
bovinos, suínos e ovinos; enquanto na avicultura, destacam-se os galináceos.”.
(BOMFIM, 2002. p. 4).
A base econômica do município de Malhador está
relacionada “as atividades agrícolas (mandioca, batata doce, maracujá e
laranja), pecuárias (bovinos, equinos e muares) e avicultura (galináceos).”
(BOMFIM, 2002. p 4).
O município de Riachuelo tem suas bases econômicas
fincadas na “agricultura (cana-de-açúcar, coco, mandioca e manga), pecuária
(bovinos, muares, suínos e equinos), avicultura (galináceos), comércio,
indústria e mineração (exploração/produção de petróleo e gás; lavra e garimpo
de areias).” (BOMFIM, 2002. P. 4).
Já o município de Ribeirópolis encontra sua base
econômica pautada na “agricultura (mandioca como principal produto, e em menor
escala o milho e o feijão), pecuária (bovinos, suínos, ovinos e equinos) e
avicultura (galináceos). A indústria e o comércio no período de 1980 a 1991
registraram um decréscimo, no que se refere ao nível de empregos e número de
estabelecimentos.” (BOMFIM, 2002. p. 4).
Algumas das atividades econômicas destes municípios
remontam do período colonial e tem uma relação com o desenvolvimento econômico
que norteou toda a trajetória destes municípios, a exemplo da agricultura
(mandioca) e da pecuária (criação de gado). A monocultura da cana-de-açúcar,
cuja finalidade era voltada para o negócio agroexportador, em especial,
atualmente tem no agronegócio promovido pelos usineiros a substituição dos
engenhos coloniais, alguns dos quais existentes até o final do século XIX.
Atualmente a monocultura da cana-de-açúcar,
presente principalmente no município de Riachuelo e parcialmente no de Malhador
é o resultado de um avanço que se dá em patamares acelerados, no que requer uma
discussão acerca dos impactos que esta tem provocado, devendo ser estabelecido
um paralelo na relação custo (para a maioria)-benefício (de uma minoria).
“O grau de produção da população
depende de como as pessoas buscam a sua subsistência, do tamanho do território
e outros fatores, e varia de acordo com o nível material do desenvolvimento e
com as relações sociais operantes. (...) Assim, o contingente populacional não
é responsável, em si, pela degradação ambiental presente em várias regiões do
planeta. Ao contrário, o crescimento desordenado da população reflete a falta
de investimentos nas regiões em que se dá, gerada pela tendência desigual e
excludente do capitalismo”. (SERRA, 2012. p. 148).
Do ponto de vista comercial, é a cidade de
Itabaiana, outrora destaque na produção algodoeira, dentro das culturas de
exportação no período colonial, um dos maiores centros comerciais do interior
de Sergipe, cuja feira é referência como a maior do Estado.
“As feiras ocuparam lugar
destacado na vida econômica sergipana. Tradição portuguesa trazida pelos
colonizadores, seu estabelecimento já estava previsto no Regimento de Tomé de
Souza”. (NUNES, 2006. p. 171).
5.2.
Aspecto religioso
Além das semelhanças e diferenças verificadas
observando através dos elementos sócio-econômicos, nenhum como o aspecto
religioso é maior fator de unidade cultural das comunidades residentes nas
sedes dos municípios como em seus povoados, repetindo-se aí uma tendência
nacional, sendo o Brasil a maior nação católica do mundo.
“O catolicismo no Brasil
impressiona pelos números e pela fé. O país é a maior nação católica do mundo e
abriga metade dos fiéis da América Latina. Traduzindo em números, são cerca de
145,4 milhões de brasileiros que se declaram fiéis à Igreja comandada pelo papa
Bento 16, de acordo com dados de 2005 da CNBB. Isso corresponde a 78,95% da população.”
(GUIMARÃES, 2013).
Apesar do crescente número das religiões
evangélicas, é numeroso o contingente de católicos nos municípios integrantes
da sub-bacia hidrográfica do Jacarecica, verificando-se a presença de uma
religiosidade popular bastante forte, tendo como ponto alto das manifestações
as festas dos padroeiros, cujos santos são bastante populares entre as
comunidades.
Tendo como padroeiro São José, a cidade de Malhador
pode se dizer assim que abre em Sergipe o Ciclo Junino, ao celebrar e homenagear
aquele que é além do padroeiro dos católicos da sede do município, o santo da
fertilidade, o protetor dos agricultores, principalmente a partir a ligação de
sua população com a terra.
A cidade de Itabaiana tem como padroeiro um dos
mais populares e celebrados santos da Igreja Católica, Santo Antônio, em torno
do qual a Paróquia de Santo Antonio e Almas promove dentro do trezenário a
tradicional procissão dos caminhoneiros, dada a alcunha de ser a cidade a
“Capital Nacional do Caminhão”.
Em Areia Branca, os católicos depositam suas
devoções em torno de São João Batista, o que tem lhe proporcionado a realização
de um dos mais representativos festejos juninos do Estado, valendo-lhe a
classificação popular de São João de Paz e Amor, uma vez que durante o período
festivo fica proibido o uso de fogos de artifícios por populares.
Ponto alto do calendário religioso de Ribeirópolis,
a festa do padroeiro Sagrado Coração de Jesus acontece na segunda quinzena de
outubro, sendo marcada pelo que de mais intimo do ponto de vista da relação de
fé e religiosidade popular há entre os católicos não apenas daquela cidade, mas
de fiéis que para lá se dirigem.
Encerrando o que podemos chamar de Ciclo Religioso
do Jacarecica, é a festa de Nossa Senhora da Conceição, padroeira de Riachuelo,
uma das mais tradicionais de Sergipe, dividindo as atenções com outras que se
realizam em outros municípios, incluindo aí a capital, Aracaju.
5.3.
Aspecto Político
A primeira forma de organização política na vida
sergipana após a colonização foi à distribuição de sesmarias doadas nos
primeiros anos desta condição política, cuja ocupação da terra se dava no
sentido sul-norte, do Real ao São Francisco, como consequência das prioridades
da administração colonial.
Atestando o desenvolvimento econômico, a Igreja,
por sua vez, se fez presente na estruturação política, a partir da divisão
eclesiástica no sentido de melhor atender a população e principalmente seus
interesses na região, criando em 1675 a paróquia de Santo Antônio e Almas de
Itabaiana.
“Até então só existia a paróquia
de N. Sra. Da Vitória sediada em São Cristóvão desde os primórdios da
colonização. Naquele ano (1675), o Arcebispo da Bahia criava a paróquia de
Santo Antônio e Almas de Itabaiana; e em 1678, a Freguesia de Santo Antônio de
Vila Nova do Rio São Francisco era desmembrada da Paróquia de Nossa Senhora da
Vitória, e criada a Paróquia de Santo Antônio do Lagarto; em 1680,
desmembrando-se a Paróquia de Santa Luzia do Itanhy da Paróquia de Santo
Antônio de Pitanga na Bahia”. (NUNES, 2006. p. 279).
Dentro da política administrativa da metrópole [12],
são criadas em 1697 as primeiras vilas sergipanas, entre as quais a de Santo
Antônio e Almas de Itabaiana, juntamente com as vilas de Nossa Senhora da
Piedade do Lagarto, Santa Luzia do Itanhy e Santo Amaro das Brotas, sendo estas
os embriões das primeiras cidades sergipanas.
Ainda que suas existências sejam anteriores, suas
organizações político-administrativas tenham sido reguladas por leis do Império
(Itabaiana) e da República (Areia Branca, Malhador, Riachuelo e Ribeirópolis),
estas só começaram a se constituir politicamente como as conhecemos atualmente
no século XX, passando todas elas a partir daí a ser administradas por
prefeitos municipais.
Apesar de criado pela resolução provincial nº 1.331
datada de 28.08.1888, Itabaiana só elegeu seu primeiro prefeito em 1935
(estando atualmente na sua 24ª gestão), sendo antes administrada no período de
1990 a 1935 por intendentes (32 gestões) [13].
Dada à importância política e econômica de
Itabaiana, principalmente, as disputa políticas (eleitorais) tendo sido estas
marcadas por episódios que ficaram impressos na história, “coube a Itabaiana o
triste título de local das mais memoráveis eleições do cacete da História de
Sergipe” (MENEZES, 2010), episódio que ficou conhecido como a “Eleição do
Cacete” (eleição para vereadores e juízes de paz).
“Os episódios de 1848 mostram que
os males das rivalidades e da polaridade política têm longa trajetória no
torrão serrano. (...) A vila ainda registraria outras batalhas eleitorais em
1856, 1863, 1868 e 1872, porém nenhuma dessas com a intensidade.” (MENEZES,
2010).
Antes de Itabaiana, o município de Riachuelo já
havia sido criado em 31 de abril de 1874, através da Resolução Provincial nº
964, cominados com o Decreto Estadual nº 10 de 25 de janeiro de 1890.
Contribuiu para isso o grande crescimento econômico alavancado principalmente
pelo cultivo da cana-de-açúcar, elevando em maio de 1872 o povoado Pintos a
condição de Freguesia de Nossa da Conceição de Riachuelo, evoluindo dois anos
depois a condição de Vila de Riachuelo, quando deixou de pertencer ao município
de Laranjeiras.
Os demais municípios integrantes da sub-bacia
hidrográfica do Jacarecica (Ribeirópolis, Malhador e Areia Branca) foram
constituídos na segunda metade do século XX, experimentando o primeiro a
modalidade de administração através de intendentes, enquanto os segundos
exclusivamente por prefeitos.
O município de Ribeirópolis foi criado em 18 de
dezembro de 1933, deixando de chamar-se Saco do Ribeiro e passando a chamar-se
a partir de então Vila de Ribeirópolis, sendo administrado de 1º de janeiro de
1934 a 15 de dezembro de 1934 por três intendentes e a partir daí por prefeitos
eleitos, mas somente em 28 de março de 1938 a vila alcançou o status de cidade.
Na história política do município de Ribeirópolis,
impossível não registrar a longevidade da família Passos, cujo patriarca,
Francisco Modesto dos Passos (Chico Passos) foi além de prefeito, deputado
estadual por oito mandatos consecutivos. Na “esteira” de sua trajetória de
político bem sucedido do ponto de vista eleitoral, seu filho, o advogado
Antônio Passos Sobrinho foi prefeito por duas vezes estando exercendo seu
quarto mandato de deputado estadual. Sua esposa, a psicóloga Fátima Regina
Céspedes Passos foi à primeira mulher a eleger-se prefeita daquele município,
sendo reeleita para o mesmo mandato.
Enquanto isso, os municípios de Malhador e Areia
Branca tem sua emancipação política cravada na segunda metade do século XX,
sendo o primeiro criado pela lei estadual nº 525-A de 11/11/1963 e o segundo
através da lei estadual nº 1.254 datada de 11/11/1963, ganhando ambos a partir
daí autonomia política administrativa de fato e de direito.
6.
CONSIDERAÇÕES FINAIS:
O presente trabalho permitiu confirmar que a
história das sociedades humanas, até hoje, gira em torno das perguntas que
conseguimos formular, mas é movida, principalmente, pelas respostas que
conseguimos encontrar a estas indagações.
Acrescenta-se a este fator histórico, o elemento
religioso como impulsionador a constituição das cidades – desdobramento das
povoações iniciadas no século XVII, associado à expansão da colonização
sergipana, a partir da divisão do território em sesmarias e na consequente
criação de gado.
O desenvolvimento econômico ao longo da história da
presença humana na sub-bacia hidrográfica do rio Jacarecica está associado ao
seu vínculo com a terra (estabelecendo sua relação com o rio) e daí
desdobrando-se nos mais diferentes elementos, que se completam.
Indispensável dizer que este trabalho não se
pretende conclusivo, mas nasce na perspectiva de “provocar”, no sentido benigno
da palavra, o estudo não apenas sobre a História do Povo Jacarecica, mas as
mais distintas variáveis que sugere o tema.
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[1] Estudante da Especialização em
Gestão de Recursos Hídricos. Universidade Federal de Sergipe. claudomir21@bol.com.br
[2] Prof. Dr. UFS, Departamento de
Engenharia Agronômica, Cidade Universitária “Prof. José Aloísio de Campos”, São
Cristóvão, SE, 49100-000, Tel: (79) 2105-6983, aalucas@ibest.com.br
[3] AP – significa “Antes do
Presente” que, por convenção, é 1950. Trata-se de uma menção à descoberta da
técnica de datação através do carbono 14, que se deu em 1952. As referências
cronológicas obtidas através de métodos físicos são sempre acompanhadas de suas
respectivas margens de erro, que são expressas com o sinal positivo (+) e o
negativo (-)
[4] As culturas pré-históricas
sergipanas são classificadas em Canindé (9.000 AP-), Aratu (800 a 1700) e
Tupiguarani (900 a 1900)
[13]Nos referimos a gestões e não
gestores, uma vez que alguns deles estiveram à frente da administração por mais
de uma vez.