Em 1848, a Liga dos Comunistas, primeira entidade de trabalhadores
revolucionários de abrangência internacional, decidiu publicar um
manifesto expondo seu programa. Confiou a redação a dois de seus
membros, K. Marx e F. Engels, então jovens intelectuais. O Manifesto do
Partido Comunista foi publicado em fevereiro do mesmo ano e tornou-se um
dos textos mais representativos dos pensamentos moderno e
revolucionário.
Os autores expõem na primeira parte, denominada Burgueses e
Proletários, a tese de que a luta de classes é a principal dimensão da
história humana. A classe dominante de cada época é beneficiada pela
forma particular de propriedade. Ao chegar a uma determinada fase de
desenvolvimento, as forças produtivas materiais da sociedade se chocam
com as relações de produção existentes, especialmente com as relações de
propriedade dentro das quais se desenvolveram até ali, as quais se
tornam obstáculos a elas. O conflito aberto entre proprietários e
produtores diretos (trabalhadores), entre opressores e oprimidos, abre a
possibilidade da revolução social.
Para K. Marx e F. Engels, após surgirem de dentro do próprio
feudalismo, a burguesia, a propriedade capitalista e as forças
produtivas modernas revolucionaram o mundo. Multiplicaram a capacidade
de produção e ampliaram os mercados até incorporar todos os continentes.
Além de mais produtivo e integrado, o mundo passou a ser essencialmente
instável, pois o capitalismo provoca uma ininterrupta mudança de
processos, produtos e instituições. Essa revolução instalou o
pragmatismo utilitário na vida cotidiana, dissolvendo os valores
comunitários do passado no frio cálculo monetário.
Na segunda parte do Manifesto, intitulada Proletários e Comunistas,
procura-se demonstrar que o avanço produtivo passou a não mais caber nas
relações sociais capitalistas e a se mostrar incompatível com o domínio
da burguesia. O caráter cada vez mais social da produção preparou as
condições para a propriedade coletiva dos meios produtivos e criou o
sujeito histórico interessado nessa mudança: o proletariado. A grande
indústria concentrou enorme massa de assalariados sujeitos a um contínuo
processo de exploração. A classe trabalhadora passou a constituir um
ator coletivo com o potencial de destruir todas as dominações de classe e
abolir a propriedade privada.
Os comunistas comporiam o movimento internacional buscando esclarecer
o proletariado a respeito das reais possibilidades de superação do
capitalismo, por meio de uma revolução socialista e do estabelecimento
de uma sociedade baseada na propriedade social dos meios de produção e
na superação do Estado como instrumento de domínio de classe. Na
terceira e última parte, denominada Literatura Socialista e Comunista,
K. Marx e F. Engels fazem a crítica das correntes socialistas
conservadoras e utópicas, e fecham o escrito com a conclamação que se
tornou célebre e expressa muito bem o espírito dos comunistas:
“Trabalhadores de todo mundo, uni-vos”.
Escrito no contexto dos acontecimentos que levariam à eclosão das
revoluções sociais de 1848 na Europa, o Manifesto expressa, no plano
teórico-político, uma decisiva viragem histórica: pela primeira vez, se
apresenta um projeto sócio-político explícita e organicamente integrado à
perspectiva da classe trabalhadora. Somente este sujeito histórico será
capaz de promover de forma consequente a Revolução Comunista de que
fala o Manifesto: substituir a “velha sociedade burguesa, com suas
classes e antagonismos de classes” por uma “associação na qual o livre
desenvolvimento de cada um é a condição para o livre desenvolvimento de
todos”.
__________
O PODER POPULAR Nº 9: http://pcb.org.br/portal2/10615