Há 30 anos, no dia 06 de setembro de 1986, era deflagrado
em Pirambu o Movimento dos Pescadores, que na época denunciava as
péssimas condições de trabalho da categoria e os baixos salários
divididos entre a tripulação de uma embarcação.
Num momento em que a pesca em Pirambu vive, talvez a pior
crise em sua história, o resgatamos este que foi o mais significativo
movimento de resistência dos trabalhadores de Pirambu no século passado.
Em 1996 a cidade de Pirambu alcançava um grande surto na
sua frota de barcos, acrescentando aos 10 existentes na virada da década
de 70 para 90, aqueles vindos de Alagoas, Pernambuco e Ceará. A
população aumentava significativamente nos últimos anos, passando dos
cerca de 2000 verificados em 1980 para mais de 4000 em 1985.
A “fartura” na produção de camarão elevava Pirambu a
condição de uma das mais importantes bancas camaroneiras do Nordeste,
com certeza a maior de Sergipe, posição esta que mantinha até o início
dos anos 90, até ter início à decadência que se acentuou sobremaneira
nos últimos anos.
De toda a produção obtida por um barco de pesca, apenas 10%
dela era dividida entre três pescadores (com a mecanização da pesca
industrial, o número de pescadores passava de quatro para três em cada
uma das embarcações).
Insatisfeitos com esta situação, os pescadores se
mobilizaram e procuraram a Colônia de Pescadores Z – 5 para reivindicar
que esta se posicionasse ao lado da categoria, ou no mínimo,
intermediasse um entendimento no sentido de rever este percentual, bem
como alguns itens de segurança nas embarcações.
Proprietário de barco, o presidente da entidade José
Salviano Machado Neto não atendeu ao pleito dos pescadores e, ao
contrário do que eles pleiteavam, firmou posição em defesa da categoria
dos armadores, da qual era também um de seus líderes.
Os pescadores obtiveram o apoio do então secretário da
Colônia de Pescadores, Josué Morais de Souza (Irmão Josué). Estava
iniciado o embate que se tornava célebre e divisor de águas nas lutas
populares e sindicais de Pirambu.
A Josué se juntaram outros pescadores, donos de barcos que
não concordavam com tamanha injustiça e lideranças populares que
passaram a buscar alternativas de enfrentamento e consolidar a
organização dos trabalhadores em empresas de pesca em Pirambu.
Durante todo o mês de setembro, a coordenação do Movimento
dos Pescadores (como ficou conhecido) que incluía o secretário geral da
Colônia de Pescadores Josué Morais de Souza, Adelmo dos Santos, Heleno
Bispo dos Santos, Milton Nascimento dos Santos, José Bonifácio Gomes dos
Santos (Padeirinho), Claudomir Tavares da Silva e Vanderley Pereira da
Silva, entre outros, procuraram apoio para a causa, recebendo a
solidariedade da Federação dos Pescadores de Sergipe, do Sindicato dos
Petroquímicos (SINDIQUÍMICA) de Sergipe, da Central Única dos
Trabalhadores (CUT), da Central Geral dos Trabalhadores (CGT) e do
Diretório Municipal do Partido dos Trabalhadores (PT). Neste momento, a
causa dos pescadores ganhava a simpatia da população e o movimento se
ampliava.
O Partido dos Trabalhadores – PT, oficializa apoio ao
Movimento dos Pescadores, em Ato Político realizado no dia 14 de
setembro de 2006, em que estiveram presentes dirigentes municipais,
estaduais e candidatos as eleições gerais, como Tânia Magno –
governadora, Antônio Bernardo – vice-governador, Luiz Alberto - senador,
Ismael Silva – deputado federal e Neilza Barreto – deputada estadual.
Na mesma velocidade em que chegavam os apoios ao movimento,
chegavam as perseguições e cooptações aos seus principais expoentes,
com demissões e ameaças.
O Dia da Criança de 1986 em Pirambu foi marcado por
mobilização e luta. Reunidos na sede da Colônia Z - 5, dezenas de
pescadores fizeram um balanço do Movimento e definiram as próximas
etapas de lutas. Participaram da reunião dirigentes da Central Única dos
Trabalhadores, do Movimento dos Pescadores e do Diretório Municipal do
PT, que a época era a única força política do campo popular instalado em
Pirambu.
Ficou definido que não haveria recuo e que para cumprir o
papel de defesa dos interesses dos pescadores seria necessário a
fundação de um Sindicato dos Pescadores, a partir de um processo que
represente os interesses e anseios da categoria.
Uma Comissão composta por Josué Morais de Souza, Adelmo dos
Santos, Mílton Nascimento dos Santos, José Bonifácio Gomes dos Santos e
Heleno Bispo dos Santos foi escolhida para preparar a Assembléia Geral
dos Pescadores de Pirambu, em data e local a ser combinado e dado ampla
divulgação.
Após um mês e vinte dias de movimento, os pescadores
encontram as condições necessárias para organizar uma entidade que
pudesse articular as ações da categoria. Reunidos no dia 26 de novembro
de 1986, das 09 às 11:30h na antiga Escola Municipal Mário Trindade
Cruz, local onde seria instalada posteriormente a Agência do Banco do
Brasil.
A reunião foi instalada pela Central Única dos
Trabalhadores que se fez representar pelo presidente Edmilson Araújo e
outros dirigentes, além de representantes de vários sindicatos de
trabalhadores de Sergipe e da Central Geral dos Trabalhadores.
A Capitania dos Portos de Sergipe,que desde o início se
posicionou contrário a organização dos pescadores e em defesa dos donos
de barcos, enviou um representante do Capitão de Fragata Neil Froes de
Almeida, o militar de pre-nome Tadeu. Os pescadores não se deixaram
intimidar e por unanimidade fundaram a Associação dos Trabalhadores em
Empresas de Pesca de Pirambu (ATEPESCA), entidade pré-sindical
Pró-SINDIPESCA.
Foi escolhido para presidir a entidade o pescador Mílton
Nascimento dos Santos, contando em sua diretoria com as presenças dos
principais líderes do movimento, a exemplo de Adelmo dos Santos, Josué
Morais de Souza, José Bonifácio Gomes dos Santos, Heleno Bispo dos
Santos e Vanderley Pereira da Silva. Estavam dadas as condicionantes
para o fortalecimento do movimento sindical dos pescadores de Sergipe a
partir de Pirambu.
Acrescenta-se a este capítulo os desdobramentos que vão
resultar na divisão do movimento dos pescadores no ano seguinte, quando
nas eleições para a Colônia de Pescadores, a categoria se dividiu entre
aquele que representava os interesses dos pescadores e dos patrões.
De um lado, Josué Morais de Souza, apoiado por setores do
PT, da CUT e independentes, as mais autênticas lideranças do movimento e
do outro lado Vanderley Pereira da Silva, que contava com o apoio da
Prefeitura Municipal,a época sob a gestão do prefeito Marcos Lopes Cruz
(PFL), dos donos de barcos, dos setores mais reacionários da sociedade e
do seu partido, o PCdoB, que seria instalado naquele ano em Pirambu.
Vanderley Pereira elegeu-se e renunciou ao posto meses
depois, abrindo as portas para uma Intervenção da Federação na Colônia
de Pescadores em 1988, tendo a frente o senhor Abelardo do Nascimento,
representante do setor patronal, convocando novas eleições para 1989,
desta vez sendo Josué Morais candidato de consenso, inclusive com o
apoio de Vanderley e do seu partido, que contava com uma vereadora na
cidade, Ivânia Pereira (sua irmã) - o setor patronal e a prefeitura de
Pirambu, agora sob o comando de César Vladimir de Bomfim Rocha (PFL),
não reuniram as condições de se articular e impedir o triunfo do setor
mais combativo do movimento sindical dos pescadores a direção da
entidade de classe.
Desde 1989 o mesmo grupo dirige a Colônia de Pecadores, mas
a referência de combatividade exauriu-se a partir de 1991 a 1993, há
exatos 20 anos, época em que esta não conseguiu avançar no que diz
respeito a colocar-se enquanto uma ferramenta de luta em defesa dos
pescadores, ainda que tenha se transformado em Sindicato por força da
nova Constituição da República Federativa do Brasil de 05 de Outubro de
1988.
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8* Claudomir Tavares da Silva (45) é professor concursado da
rede pública municipal em Pirambu e estadual em Propriá. Licenciado em
História, com aperfeiçoamento e especialização em Gestão de Recursos
Hídricos (Universidade Federal de Sergipe).