A partir dos anos 1970, a questão ambiental deixou de ser uma
bandeira apenas dos movimentos sociais e se tornou mais complexa, com a
entrada em cena de outros sujeitos, em especial os empresários, em
articulação com a Academia (Clube de Roma) e os organismos multilaterais
(ONU e as conferências ambientais). O percurso do debate inclui o
Relatório Meadows elaborado pelo Clube de Roma e intitulado “Limites do
crescimento” (1972), o Relatório Brundtland (1987), elaborado pela
Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, que estabelece o
conceito de “desenvolvimento sustentável” e ganha projeção na RIO-92,
além de diversas conferências climáticas e ambientais, chegando até a
mais recente, a 21ª Conferência do Clima (COP 21), realizada em Paris,
no mês de dezembro de 2015.
Do itinerário de relatórios, conferências e compromissos políticos,
resulta a ideia de que o crescimento econômico atual deva respeitar
certos limites para que não comprometa a vida de gerações futuras. Tais
limites são sempre entendidos como externos ao crescimento econômico e
incluem desde a contaminação das águas à desertificação, passando pela
destruição das matas e a erosão genética, dentre outros. Daí a aposta no
desenvolvimento de “tecnologias limpas”, que seriam capazes de
minimizar os impactos ambientais do crescimento.
Uma “economia verde” garantiria o uso racional dos recursos naturais
através da atribuição de preços aos bens naturais. As disputas no
mercado levariam as empresas a desenvolver tecnologias mais adequadas à
preservação ambiental, ainda que isso venha a significar um aumento dos
preços para o consumidor. A mercantilização da natureza pode ser
verificada nas chamadas “bolsas verdes”, onde se vendem, dentre outros,
os chamados créditos de carbono, ou seja, o “direito” de poluir, desde
que respeitados os limites impostos pelo próprio mercado.
Enquanto isso, na vida cotidiana, a visão de que o cuidado do planeta
por cada indivíduo levará a um mundo sustentável é reproduzida pelos
meios de comunicação de massa e por muitas escolas. Juntando-se essa
ideia à visão de que a humanidade em seu conjunto é responsável pelos
problemas ambientais, ocorre uma tendência a atribuir a “culpa” ora a um
egoísmo, ora a um consumismo excessivo, atribuídos aos cidadãos em
particular, não ao sistema como um todo.
As soluções que pretendem estabelecer limites ao crescimento
econômico, resultantes do próprio jogo de mercado ou de atitudes
individuais, não levam em consideração o caráter incontrolável do
capitalismo. Afinal, como conciliar as limitações ambientais – inclusive
a diferença de ritmos entre natureza e capital – sem que haja limites à
valorização do capital? Esta é decorrente da exploração da força de
trabalho no processo de transformação da natureza em mercadorias e se
desdobra na concorrência capitalista para verificar qual capital
particular será capaz de realizar aquela exploração na forma de
acumulação. Daí a permanente expansão técnica do capital e das relações
mercantis, ampliando a exploração, tanto da força de trabalho, quanto da
natureza.
Essa relação não pode ser limitada, apenas destruída. Mantida a
lógica mercantil, mudanças meramente técnicas ou baseadas em mudanças de
atitudes individuais não têm a capacidade de atingir o cerne do
problema, ou seja, o próprio metabolismo do capital. A eliminação das
relações capitalistas torna-se uma necessidade histórica na medida em
que a expansão do capital coloca em risco a própria sobrevivência da
humanidade, ainda que, por um período, a destruição, combinada com a
escassez, possa ser elemento para ampliar a lucratividade do capital.
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