A aprovação pela Camara dos Deputados por maioria qualificada (367 cntra 137 e 7 abstenções) do
impedimento da Presidente Dilma Rousseff anuncia o fim do governo do
Partido dos Trabalhadores. Mas não o fim da alarmante crise em curso que
tende mesmo a aprofundar-se.
O país mergulhou num caos que desafia a imaginação e flutua num pântano de corrupção politica e económica.
É uma crise dilemática em que todas as saídas previsíveis são
negativas. Dilma é responsável por um governo desastroso. Aliada a
forças políticas incompatíveis com o programa do seu partido, traiu os
compromissos assumidos com o povo. A reforma agrária não avançou, a
devastação da Amazónia prosseguiu, a Saúde e a Educação chegaram a um
estado calamitoso, a invasão das terras dos indígenas prosseguiu.
O favorecimento do grande capital foi inocultável. Dezenas de milhões
de pessoas vegetam em favelas e cortiços numa situação de miséria
absoluta.
O PIB caiu e a sua queda vai prosseguir devido à baixa do preço do petróleo e das exportações de soja e minérios.
Dilma não é corrupta,embora tenha utlilizado fundos publicos no
financiamento da sua campanha eleitoral. Mas ministros, altas
personalidades do aparelho de estado ou a ele intimamente ligadas estão
atoladas nos escândalos do «Lava Jato» que atingiu a Petrobras, empresa
insígnia do Brasil.
O envolvimento do ex-presidente Lula nesse pântano de corrupção é
transparente. As acusações que o atingem são gravíssimas e o seu
comportamento no episódio da nomeação para chefe da Casa Civil
contribuiu para a queda vertical da sua popularidade.
A sociedade brasileira esta profundamente dividida. A oposição, que
se mobilizou para o afastamento de Dilma através do Legislativo, carece
de um mínimo de prestígio e credibilidade.
O vice presidente Michel Temer – que assumirá a Presidência da
Republica se o Senado referendar o afastamento de Dilma- é um corrupto. O
PT pediu inclusive o seu impedimento. O presidente da Camara de
Deputados, Eduardo Cunha, e o presidente do Senado, Renan Calheiros, são
acusados de terem recebido milhões em «propinas» no âmbito do «Lava
Jato”. Dezenas de deputados da oposição estão também envolvidos nesse
mar de lama.
Na América Latina, o movimento contra o golpe constitucional promovido
pela oposição assumiu grandes proporções. A CEPAL, a UNASUL, a CELAP, a
CLACSO , a própria OEA condenaram a campanha do impedimento de Dilma.
Manifestações de protesto contra o golpismo foram organizadas frente às
embaixadas do Brasil.
O governo dos EUA, temeroso de reações tempestuosas na América
Latina, manteve-se, ao longo da crise, numa atitude de expetativa. Mas o
influente The New York Times, numa extensa reportagem
publicada no dia 16 de Abril, acusou a oposição de golpista e qualificou
Cunha, Calheiros e outros parlamentares de «criminosos».
A grande maioria dos intelectuais, entre os quais Chico Buarque,
embora muito crítica da política da PT e nomeadamente de Dilma e Lula,
tomou posição contra o golpe constitucional.
Apos instaurado o processo no Senado, este dispõe de 180 dias para se pronunciar sobre o impedimento aprovado pela Camara .
O espetáculo exibido pela Camara durante a votação projetou uma imagem
degradante da instituição e da chamada democracia representativa.
O Partido Comunista Brasileiro- uma das raras organizações políticas não
contaminadas pela corrupção- numa nota divulgada durante o debate na
Camara dos Deputados- sugeriu «uma saída pela esquerda», através de uma
mobilização massiva dos trabalhadores. Mas as massas não estão
preparadas para essa opção; as condições subjetivas para tal «saída» são
no momento inexistentes.
A crise, longe de se aproximar de um desfecho, vai prosseguir.
Para onde caminha o Brasil na sua trágica- é a palavra- crise?
Qualquer tentativa de resposta não seria responsável. O caos desafia a imaginação.
OS EDITORES DE ODIARIO.INFO
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